Algumas palavras sobre a Paula do BBB 19

Fonte: Instagram



Não vou fazer o hipócrita aqui e dizer que "não vejo porcarias da TV aberta" como fariam alguns pseudo-intelectuais de internet que se acham mais inteligente que todos os demais por terem lido algum dos livros de literatura brasileira da época da escola. Sim, assisti a alguns episódios do BBB 19, principalmente pela ideia original de acompanhar o comportamento de pessoas comuns privadas do convívio em sociedade. Por mais forçado que seja, ainda acho que, ao longo dos meses os participantes acabam sucumbindo à sua humanidade e deixam de jogar para serem quem realmente são. E acompanhei algumas das "declarações polêmicas" da participante Paula Von Sperling, a vencedora do programa. Sim, ela disse frases racistas. Sim, ela foi preconceituosa em vários momentos em relação a pobres ("favelado"). Sim, ela desprezou a militância política de esquerda reduzindo todo um discurso a um único partido ("deve ser daquele partido lá"). Sim, o racismo é crime e não deve ser encarado como algo comum. Sim, o preconceito deve ser combatido. Sim, a ideologia política das pessoas deve ser respeitada. Devemos lutar por isso sempre. 


Mas será que em relação a Paula é tudo isso mesmo? 


É curioso como gostamos do linchamento público de pessoas comuns. Mas nossa indignação é seletiva. Acabamos de eleger um presidente que diz e faz coisas muito piores, e com ele usamos a "liberdade de expressão". Muitos agora defendem um humorista que enviou pelos Correios para uma mulher pedaços de papel que esfregou no próprio saco. Por que com a Paula queremos a devida punição? Será que isso não é muito mais pela nossa necessidade de descontar em alguém nossa indignação do que pelo que a pessoa fez, realmente? Ou vou mais além: será que não é pela nossa inveja saber que ela, além de ser bonita e atraente, é agora a mais nova milionária do Brasil, enquanto nós continuaremos tomando ônibus, metrô e ralando muito para conseguir um salário que mal paga as contas? 


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Vale lembrar que, por mais idiota e insignificante que o programa seja, algumas das provas feitas pelos participantes exigem mais do que força física: exigem resistência emocional e intelectual. E ela venceu 4 dessas provas. Justamente ela, a menina de fala mole e desacreditada por todos na casa a maior parte do tempo, foi a que demonstrou ter mais força. E justamente essa menina, sem filtros, com opiniões controversas e jeito de garota desajeitada, foi a vencedora do maior reallity show da América Latina. 



O que ela falou no programa muitos de nós falamos no bar com os amigos, na máquina de café da empresa. Será que podemos simplesmente "olhar a trava no olho do outro"? Se nossa vida particular fosse exibida em rede nacional no horário da novela das nove, será que tudo seria tão correto assim? 


As palavras infelizes devem sim ser combatidas. Devemos sim dizer que o que ela falou é errado. Mas temos de lembrar que ela é uma pessoa comum, e não tem obrigação de ser politicamente correta em 100% do tempo. Daqui pra frente, como pessoa pública, aí sim ela vai precisar de muitos filtros que ela não precisava enquanto era apenas uma menina formada em Direito em Minas Gerais. O linchamento público, a destruição da imagem e da vida pessoal da garota simplesmente pelas coisas idiotas que ela diz tem muito mais a ver com nossa intolerância e nossa sede de vingança do que com ela, propriamente. 


E nós, antes de cobrar dela, precisamos fazer aquilo que cobramos do outro. 


Pronto, falei demais. É isso

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