Carta ao Lula




Olá, Lula. 

Antes de qualquer coisa, deixa eu me apresentar de uma forma que coloque as coisas em seus lugares, para que eu seja interpretado da maneira correta. Sou de esquerda. Já fui filiado ao PT há um tempo atrás, mas acabei saindo do partido; me filiei ao PSDB acreditando que fosse um partido de centro-esquerda - sim, sou ingênuo em diversas áreas da vida, ainda - e depois tentei me filiar ao PPS, mas ainda bem que abortei a ideia antes de a concretizar. Ou seja, gosto de política desde muito cedo. Gosto de analisar a política, falar sobre o assunto, formar opinião própria. Acredito na sua inocência, pelo menos no caso do triplex. Acredito também que havia um plano orquestrado pela direita brasileira para lhe desmoralizar e destruir seu legado, afinal, vencer nas urnas uma pessoa tão forte e tão querida pelo povo era algo quase impossível. Tudo começou em 2014, quando o PSDB não aceitou perder a eleição por uma diferença tao baixa. Começou aí o plano que derrubaria o PT, calaria sua voz e levaria o alto tucanato de volta ao poder, agora sem concorrência forte. Para isso, criaram o processo ridículo que levou ao impeachment da presidenta Dilma. Cooptaram a Lava Jato, inicialmente uma operação séria que tinha como foco investigar casos de corrupção política. Identificaram que boa parte do alto magistrado brasileiro também era direitista e identificada com o conservadorismo. Viram aí a oportunidade de ouro. Tinham a faca e o queijo nas mãos. Para acabar com o PT, só matando o Lula ou o prendendo. Matar iria dar muito na cara, então prender era a melhor alternativa.  E foi o que fizeram. Criaram provas que não se sustentam sob qualquer julgamento sério para o levar à cela. Estava criado o cenário perfeito para levar de volta o PSDB ao poder. Mas, em vez disso, acabaram empurrando para a cadeira da presidência da república um aloprado, imbecil, insignificante, repugnante, baixo, vil e torpe sujeitinho cuja única realização na vida foi enriquecer às custas do salário de deputado federal, cargo que ocupou com a insignificância que lhe caracteriza como ser humano. 

Mas enfim, não é minha intenção fazer qualquer análise, até porque isso o senhor faz muito melhor que eu. Quero lhe dizer que assisti sua entrevista à Folha e ao El País, depois da vitória contra a censura imposta pelo STF. Sinceramente, eu esperava, mesmo já sabendo da sua personalidade resistente, um Lula amargurado, abatido pela injustiça que sofreu, decepcionado, triste pela perda de pessoas tão queridas. Pois por mais forte que seja, sei que o senhor é homem, ser humano como qualquer outro, e todos nós sentimos o baque da vida, e por vezes nos deixamos levar para baixo. Tinha medo de vê-lo depressivo. Tinha medo de que tivesse desistido do Brasil e se conformado com a injustiça. Tinha medo de imaginá-lo como um senhor de 73 anos que desistiu de lutar e agora esperava apenas o fim dos dias, para enfim se encontrar com sua esposa querida, seu neto, e poder descansar. 

Mas me surpreendi. Surpreendi positivamente. 

Muito diferente do que eu pensava. Em vez disso, vi um Lula ainda mais forte, ainda mais resistente, ainda mais convicto das suas ideias e do ideal que o levou a ser o maior presidente da história desse país. Vi um Lula muito lúcido, mesmo convivendo com a solidão e o isolamento. Vi um Lula que não jogou a toalha. Um Lula que, mesmo preso, mesmo sendo um "analfabeto", ainda tem soluções para o país, ainda pensa como político que é, ainda respira justiça e ainda sonha com um país melhor e mais justo. 

Confesso: caiu uma lágrima ao ver sua entrevista. 

Vi que o Lula não é "carta fora do baralho", como a direita tucana tentou fazer. Vi que mesmo o Lula "estando preso, babaca", ainda é o Lula de antes. Talvez ainda melhor, pois agora o casco que protege sua alma está mais forte, mais duro. E vi que aquele Lula de olhar doce que se preocupa com os pobres de vida severina ainda está lá. Intacto. Vi que o Lula não perdeu a fé. Não perdeu a força. Continua o mesmo pernambucano arretado que cai mil vezes, levanta outras mil e continua de pé. 

Que bom, Lula. Fiquei feliz por saber que a cadeia não prendeu sua alma. Você é maior que o PT. Você é maior que esse sistema judiciário golpista. Você é uma ideia. Uma ideologia. Uma ideologia de justiça, de igualdade, uma ideologia que coloca o povo como força da economia. Uma ideologia que coloca as pessoas como solução para o rombo da previdência, para o crime, para a falta de oportunidades. 

Daqui de fora, sob o comando de um imbecil que vê o Brasil como uma sala de 5ª série, esperamos pelo momento em que você novamente poderá fazer aquilo que mais sabe fazer, aquilo que está em seu DNA, aquilo que faculdade nenhuma ensina e que você aprendeu a fazer tão bem: política. 

#LulaLivre 

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