Trinta e Cinco

 




Por alguns momentos ao longo de todos esses anos eu achei realmente que eu não iria chegar ao dia de hoje. Achei que eu não iria durar tanto. E não, isso não é exagero nem estratégia para ganhar like. É fato, por motivos concretos. Em alguns momentos eu não queria chegar aqui; em outros tentei não chegar; e em alguns eu até queria, mas a saúde parecia que não ia me deixar. E depois disso tudo veio uma pandemia que fez não só eu, mas boa parte do mundo, achar que não chegaria vivo até aqui. Mas, contrariando todas as expectativas, principalmente as minhas próprias, eu cheguei. 

Alcancei os 35 anos de idade. 

E o que quero agora? Bom, com 35 anos nas costas não sou mais um moleque. Não vejo a vida como um mar de rosas, até porque agora já sei que a vida é cruel. O mundo é cruel. Abraço nessa vida a gente recebe só da mãe. O mundo dá porrada. A vida dá murro com soco inglês. Viver é um eterno puxar de tapetes existencial. E aí, aos 35 anos, eu tenho duas alternativas: aceitar que a vida é cruel, dura, sem beleza nenhuma e apenas resistir sobrevivendo de forma medíocre até o dia em que meu CPF conste entre os que já não tem mais fôlego de vida, ou posso tentar ver beleza em meio ao caos, posso tentar ver amor onde a indiferença parece ditar as regras, posso tentar colocar um pouco de cor no preto e branco chamado existência e fazer dessa minha porca existência algo relevante para mim e para mais alguém. 

Eu escolho a segunda alternativa. 

Porque eu preciso da segunda alternativa. 

Apesar do pessimismo em relação a vida, há pessoas que eu amo. Pessoas que me fazem ver a vida de forma menos pesada. Há pessoas que carregam ternura nos olhos quando me olham. É por essas pessoas que eu escolho a segunda alternativa. 

E mesmo, no pior dos cenários, mesmo que todas essas pessoas me virassem as costas, mesmo que eu virasse um pária, um renegado e me encontrasse absolutamente só, ainda assim eu preciso escolher continuar tentando. Porque essa é a melhor alternativa. Quem desiste carrega a marca do perdedor. Mesmo na pior das existências, eu preciso continuar tentando. Se tudo der errado, tenta de novo. E de novo, e de novo, até o dia em que dê certo. Ou até o dia em que eu ceda o lugar na vida para outra pessoa com mais sorte que eu. Mas pelo menos eu tentei. Se eu for para algum lugar depois disso, eu saberei que pelo menos teimoso nessa vida eu fui. 

Não, não é pessimismo. Gosto de ver a vida sem o romance das novelas da Globo nem das séries água com açúcar da Netflix. Acho que isso causa menos ansiedade e menos decepção. Por incrível que pareça, fica mais fácil levar a vida quando você não espera muito dela. 

E assim vamos!

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