Postagens

Mostrando postagens de 2016

Jesus já voltou. E nós o matamos novamente

Imagem
Um dos pilares da fé cristã é a crença de que, algum dia, Jesus Cristo irá voltar ao mundo. A forma como isso se dará varia de acordo com cada vertente cristã, mas todas creem nisso: em um determinado momento, Jesus não só virá a esse mundo novamente como irá levar embora todos os que são fieis - acontecimento que os protestantes chamam de "arrebatamento".  A verdade é que Jesus já voltou. Esteve entre nós. E mais uma vez o matamos.  No dia de Natal - por coincidência, o dia escolhido para se comemorar o nascimento de Jesus - um homem foi assassinado dentro da estação Pedro II do metrô de São Paulo. Dois homens bêbados o agrediram até a morte. O motivo: o homem tentou defender uma travesti que, não fosse por ele, provavelmente seria a vítima da noite.  Esse homem, um senhor simples e de poucas posses, morreu por tentar defender um marginalizado, morador de rua. Esse homem, que ninguém sequer sabia existir antes do ocorrido, arriscou a própria pele para d...

Catarina (E No Desvario Seu)

Imagem
O texto abaixo é o monólogo inspirado no poema Ismália , de Alphonsus de Guimaraens, que escrevi para minha cena no espetáculo Da Placenta Ao Túmulo , apresentado em 2015 pela Cia de Segunda, equipe de teatro da qual fazia parte na época. O texto segue o roteiro de uma cena teatral, com todas as orientações de atuação necessárias. Caso queria usar só me avise, por favor!  Formato do palco : flexível.  *** ( em tom de desespero )  - Catarina! Catarina!  Luzes se apagam. Sai de cena e volta com as duas garrafas iluminadas.  - Catarina, você está aí? Cadê você, Catarina? Alguém viu a Catarina?  ( Sai olhando no rosto de um por um dos presentes, iluminando com a garrafa. Escolhe uma pessoa da plateia para ser a “Catarina” ).  ( Falando com a pessoa da plateia escolhida ) - Catarina, é você? Deixa ver. Hmm, não, você não é a Catarina.   ( Senta-se no meio do palco e começa a conversar com a plateia. Ar inocente, com...

A Garota no Trem - Paula Hawkins | Roda de Leitura #64

Imagem
Weslley Talaveira (Atenção: o texto a seguir contém spoilers!) Rachel é uma profissional de Relações Públicas que coleciona fracassos na vida: perde o casamento e ainda é obrigada a ver Anna, a nova mulher do ex-marido Tom morar na casa que um dia foi sua; se afunda cada vez mais em porres de gim-tônica e vinho de supermercado, o que a leva a perder também o emprego; divide com uma amiga um pequeno apartamento na pequena Ashbury, cidade vizinha a Londres, mas que logo se torna um peso, já que falta o dinheiro do aluguel. Some a tudo isso uma depressão em estágio avançado que mina qualquer força que ainda reste. A única distração de Rachel no momento é tomar todos os dias o trem para Londres e fantasiar histórias com as casas de beira dos trilhos que vê pela janela do trem no caminho. Não todas, na verdade, mas uma casa específica: a casa número 15 e seu casal de jovens moradores, a quem ela resolve chamar de Jess e Janson, mas que depois descobre se chamarem Megan e Scott. Jess e Janso...

Eu Não Sou Gabriela

Imagem
Sábado passado estava no metrô quando entrou um rapaz conversando no celular. Bom, "no celular" é modo de falar, pois ele falava tão alto que o vagão inteiro participou da conversa dele. Entre muitas reclamações numa briga tensa com a ex-mulher pelo direito de ver o filho de 5 anos, ele falava em alto e bom: "eu nasci desse jeito, você me conheceu assim e aceitou porque quis. Eu vou morrer assim, sou grosso mesmo, sou estúpido mesmo, sou teimoso mesmo e não vou mudar nunca, quem não gostar de mim desse jeito que vá embora e me deixe em paz". Como deve ser horrível a vida de quem pensa assim... Ano passado, no meu aniversário de 30 anos, em meio a uma crise existencial sem precedentes, escrevi que gosto de viver e que quero viver ainda muito tempo, se possível não apenas trinta, mas trinta vezes três . Hoje, completando 31, continuo com a mesma vontade de viver. Estou descobrindo só agora coisas que os outros descobriram há muito tempo atrás, e quero v...

Eu Prometo

Imagem
Ainda não te conheço. Não sei onde você mora, com quem mora, não sei da sua vida, seus costumes. Não sei sua fisionomia. Se é loira, morena, ruiva, cor natural ou com tintura, alta ou baixinha, magrinha ou gordinha, se faz o tipo "gostosa" ou não, se tem dentes perfeitos ou se ainda usa aparelho. Se tem o cabelo liso ou encaracolado. Não sei se seus lábios são pequenos ou grandes, se seus olhos são castanhos ou verdes, se seu rosto é oval ou quadrado. Não sei se tem personalidade forte ou se é maleável. Se gosta de ter sempre a última palavra em tudo ou se está sempre aberta a outras opiniões. Não sei o que você gosta de fazer aos domingos à tarde, nem nos sábados à noite. Não sei se você gosta de café fraco, bife malpassado, Nutella ou pipoca de micro-ondas. Não sei se já tem quase trinta ou se é acabou de completar 18. Não sei quem são seus amigos, se você é tímida como eu ou expansiva, se é popular ou passa despercebida, se gosta de baladas ou prefere comer pi...

A Minha Casa | Crônicas #65

Imagem
Por Wes Talaveira Você fez aquela viagem que vinha programando há alguns meses. Tudo é empolgante. Desde o momento do embarque no avião até a chegada ao local onde você pretende ter dias incríveis. Conhece gente diferente, visita pontos turísticos, conhece a história do lugar, frequenta as melhores baladas e bares, almoça com amigos, anda pela cidade, sente a simpatia e a receptividade das pessoas do lugar. Faz fotos ótimas que te farão recordar da viagem por alguns bons anos, e a cada vez que olhar as fotos vai se recordar com detalhes do contexto que a envolveu.  O que pode ser melhor que isso? Apenas a sensação de voltar pra casa.  Ao chegar em sua cidade, parece que o ar muda. Você já está acostumado até com a temperatura e o cheiro de poluição. Relembra as mesmas dificuldades para conseguir um taxi e não estranha a falta de simpatia do motorista, que simplesmente destrava o porta malas e deixa que você se vire com sua bagagem enquanto responde alguém no Whats App. Pega o ...

Como É Fazer Terapia?

Imagem
Nós brasileiros não temos o hábito de construir sótãos em casa, mas a figura do sótão é bem interessante: o lugar entre o teto e a cobertura de telhas, destinado a tubulações, caixa d’água, instalações elétricas e outras estruturas necessárias para o funcionamento da casa. É geralmente um lugar de difícil acesso, escuro, sem ou com pouquíssima ventilação, isolado do convívio familiar, escondido de tudo e todos, para onde raramente vamos e nunca levamos ninguém (alguém convida o amigo para conhecer o sótão de casa, algo como “oi amiga, você vai adorar meu sótão”?). O sótão quase sempre tem a função de “depósito” da casa, onde você guarda todo tipo de tralha e cacarecos: coisas que não vai usar mais, mas que não tem coragem de jogar fora, coisas que te trazem boas ou más lembranças, coisas que foram úteis um dia, coisas que pensa que ainda pode usar numa emergência, coisas para doação, mas que nunca são doadas de fato, coisas e mais coisas com as quais você não quer se encon...