Orgulho e Preconceito



Terminei de ler hoje um dos maiores livros da literatura inglesa, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, e de quebra ainda vi o filme de mesmo nome de Joe Wright.

O livro conta, de forma espirituosa e irônica, a história de Elizabeth Bennet, a jovem de 20 anos e inteligente filha de Mr. e Ms Bennet, a segunda de cinco filhas, e de Fitzwillian Darcy, homem rico de Pemberley que se muda com o amigo Bingley para uma região próxima a Meryton, lugar onde moram os Bennet. Lizzy conhece Darcy num baile e suas personalidades contrastantes logo se encontram, causando repulsa um no outro: nele, por conta da condição social inferior e dos trejeitos estabanados da mãe dela, Ms Bennet, que vive de procurar casamento para as cinco filhas; nela, por conta do orgulho dele de se manter distante de todos os outros no baile, e de menosprezar a companhia dela. Mas, no decorrer do livro, Lizzy e Darcy percebem que um tem muito mais para conhecer no outro do que imaginam, e no fim as personalidades até então contrastantes tem na verdade muitas coisas em comum.

O filme conta a história de uma forma bem resumida, com Keira Knightley como Elizabeth Bennet e Matthew Macfadyen como Mr. Darcy, além de ter a "Bond Girl" Rosamund Pike como Jane, a irmã de Lizzy.

Pra mim o maior mérito de Orgulho e Preconceito é o modo como cada personagem lida com sua percepção de mundo, principalmente Elizabeth e Darcy. Enquanto ela, jovem alegre e bem relacionada, vê as pessoas apenas pelo ponto de vista dela e acha que apenas as pessoas alegres são dignas de amizade, ele vê o mundo com uma divisão de classes entre pessoas finas e deselegantes, algo bem peculiar para o século XIX, época em que o livro foi escrito. Orgulho e Preconceito mostra pessoas que tiveram de abrir mão das próprias convicções para conseguir o que queriam. Mostra como muito do que pensamos sobre as pessoas está baseado nas primeiras impressões que fazemos delas. Não e à toa que "Primeiras Impressões" havia sido o primeiro título do livro. Elizabeth vê Darcy como um sujeito arrogante que quer ter todas as pessoas aos seus pés, e Darcy vê Lizzy como uma menina de segunda categoria que não merece muitos créditos.

Mas a cada vez que os dois se encontram essas impressões vão se desfazendo, a partir do momento em que um se dispõe a ver o outro de uma forma diferente. E ao se abrir para uma outra percepção de mundo, cada um deles descobre no outro uma pessoa que até então ignoravam existir, seja por puro preconceito de ambos, seja por orgulho em assumir que estavam olhando para o outro da forma errada.

Orgulho e Preconceito é o título perfeito para o livro, pois não há entre os personagens um que tenha agido sempre de maneira correta, e um que tenha sido sempre o errado. Tanto Lizzy como Darcy se mostram orgulhosos e preconceituosos, um para com o outro. O que Lizzy vê como orgulho em Darcy não passa de uma extrema e aterradora timidez, que o impede de manter qualquer contato fluente com as pessoas. E o que Darcy vê em Lizzy e na família dela como modos deselegantes não passam de um preconceito bobo, que o impede de ver melhor cada pessoa da família (aliás, foi esse preconceito que o fez intervir no namoro do amigo Bingley com Jane, a irmã de Lizzy).

Me identifiquei com o livro. Até mais do que eu imaginava me identificar. Me identifiquei com a Lizzy Bennet que forma opinião sobre as pessoas a partir do que ela vê. Mas principalmente me identifiquei com Mr Darcy. Na verdade foi mais que uma identificação. Eu me vi como Mr Darcy. Assim como ele, também sou o cara extremamente tímido, que tem uma dificuldade colossal de manter um diálogo longo com alguém, e que se sente imensamente constrangido cada vez que precisa iniciar uma conversa. E assim como ele, também fui e sou visto como orgulhoso, por conversar pouco com as pessoas, evitar contatos e raramente fazer parte das "rodinhas" de amizades. Muita gente já me classificou como orgulhoso, e na verdade sou tímido. Duas coisas com atitudes parecidas, mas motivações bem diferentes. (Uma vez me perguntaram, em tom de deboche: "você não gosta de fazer amizades?", e respondi: "gostar eu gosto, mas não tenho a facilidade que você tem de fazer amizades", algo bem parecido com o que Mr Darcy respondeu a Lizzy em um certo momento).

A leitura do livro é difícil, por conta do vocabulário rebuscado, mas a história vale a pena. Me sinto um vencedor por ter terminado de ler o livro. Por duas vezes pensei em abandonar a leitura e terminar num outro momento, mas a curiosidade em saber porque o livro é tão bem falado me fez insistir e continuar. Valeu a pena! Agora que li o livro e vi o filme considero a missão cumprida. O aprendizado foi ótimo. Orgulho e Preconceito é um dos livros que me marcaram e já está entre os meus preferidos. Recomendo a leitura.

Agora que engatei de vez dois livros difíceis de ler (antes de Orgulho e Preconceito li Senhora, também rebuscado e difícil de ser entendido), preciso de algo mais leve para ler. Por isso começo amanhã Veronika Decide Morrer, do Paulo Coelho. Tanto porque já tenho A Brincadeira, de Milan Kundera, e Crime e Castigo, de Dostoievski, dois livros bastante difíceis, parados na prateleira implorando para serem lidos. 

Até mais.

Comentários

  1. Então...
    Orgulho e Preconceito é sem dúvida um dos melhores livros de que já tive notícia. É uma história cativante, que prende e instiga. É uma bela pedida, certamente.

    Não posso deixar de recomendar a você outras duas interessantes leituras, cara:

    O Vermelho e o Negro, de Stendhal, é uma história densa, forte, que narra a trajetória de um jovem ambicioso e de origem pobre. Algo me diz que você já leu, mas se não... fica a dica.

    As pupilas do Senhor Reitor, de Julio Dinis, eu lhe recomendo como um exercício de observação, já que algo na estrutura dele remeterá ao clássico de Jane Austen. Entretanto, o português europeu é simplesmente delicioso e desafiador, não dá pra perder.

    Mal posso esperar pra saber qual é a sua em relação a Paul Rabbit, hehe.

    E no que tange a sua colossal dificuldade, desencane: quem lhe souber acompanhar o ritmo terá muito a ganhar, é evidente.

    Abração pra ti.

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  2. André,

    Já vi resumos do livro de Sthendal, mas ainda não li. Qto a As Pupilas do Senhor Reitor, eu tenho em casa e comecei a ler uma vez, mas foi durante o TCC na faculdade e acabei interrompendo. Está entre os que preciso ler, também.

    Obrigado pelas dicas.

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