"Senhora", de José de Alencar


Acabei de ler Senhora, de José de Alencar. Por ser um livro escrito no século XIX, a leitura é difícil, mas a história é incrível.

O livro conta a história de Aurélia Camargo, menina pobre do Rio de Janeiro que fica órfã, depois de já ter perdido o irmão por causa de uma doença e se vê sozinha no mundo. De repente, uma herança deixada pelo avô com quem teve pouco contato fez dela a menina mais rica do Rio de Janeiro, o que a fez ascender socialmente, tornando-a a mais invejada e cobiçada da cidade. Enquanto era pobre, namorou com Fernando Seixas, o único homem que amou de fato, mas que a trocou por Adelaide do Amaral, que era rica e lhe ofereceu um dote alto para casar-se com ele.

Depois de rica, Aurélia mais que dobra o valor do dote de Adelaide para casar-se com Fernando, com uma única condição: durante a negociação, ele não deveria saber quem era a noiva. Ao descobrir que sua "prometida" era Aurélia, Fernando se alegra por casar com a moça que sempre amou, mas no dia do casamento Aurélia revela sua verdadeira intenção: o comprou apenas para tê-lo como marido perante a sociedade, e mostrar o quanto Fernando era um vendido, que estava em busca apenas de uma boa oportunidade de subir na vida, e via no casamento com uma menina rica a chance perfeita. A convivência entre eles é tensa. Aurélia e Fernando apenas mantém um casamento de fachada, mas dormem em quartos separados e passam o dia a trocar farpas, com diálogos sempre cheios de ironia.

O livro é uma crítica clara à sociedade da época, onde qualquer coisa valia a pena para não se quebrar as convenções sociais. Uma sociedade hipócrita que se prende às imagens, que privilegia o que é visto em público, e onde o dinheiro é a força máxima. A crítica ao dinheiro fica muito clara na forma como José de Alencar divide o livro: preço, quitação, posse e resgate, etapas de uma transação comercial. No livro, Alencar critica o casamento como forma de ascensão social, desprovido de amor. Mas mostra também o oposto: o amor verdadeiro resiste à tudo, inclusive a traíção. Aurélia amou Fernando desde o momento em que o conheceu até o fim do livro, e Fernando, ao seu modo, também amava Aurélia, mas seu desejo por dinheiro e boa vida muitas vezes o fazia tomar decisões erradas.

O livro não tem vilão nem vítima. José de Alencar consegue fazer o leitor mudar várias vezes de opinião sobre Aurélia e Fernando: por vezes apoiei Aurélia e condenei Fernando, depois me peguei sentindo pena de Fernando e condenando Aurélia. E acho que esse é o grande mérito de Senhora: mostrar que ninguém é sempre vítima nem vilão.

Outro grande mérito de Senhora é exatamente o de colocar uma mulher como eixo principal da história: Aurélia é a senhora de sua vida, é ela quem determina quando e como as coisas acontecem. Aurélia é uma garota de temperamento forte, dominadora, mas ao mesmo tempo magoada por ter sido traída pelo homem que amou. E de uma mulher magoada espera-se tudo! rs Aurélia domina, mesmo quando não tem a intenção de fazer isso, como fazia nos bailes, onde era a atenção principal, desejada pelos homens e invejada pelas mulheres. Aurélia é uma personagem única.

A leitura foi boa, muito boa. Agora pretendo começar a ler A Grande Arte, de Rubem Fonseca. Se algum de vcs já leu o livro, me diga se é bom! rs

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