O Doutor Abobrinha de Washington




Longe, mas muito longe de mim querer analisar os motivos que levaram os americanos a eleger Donald Trump, muito menos querer entender as medidas internas que ele toma ou deixa de tomar. Entendo que esses pontos devem ser tratados por americanos. Que cada um resolva as bagunças que estão dentro de casa. 

Mas quando a bagunça do vizinho sai do quintal e vaza para a rua, precisamos ficar atentos, para verificar se essa bagunça vai acabar parando no nosso portão.

A cena lamentável da última quinta onde Donald Trump humilhou e escorraçou o presidente ucraniano Volodmir Zelensky, deixou evidente a forma trumpista de ver o Governo, os EUA e o mundo. No seu entendimento, ele se enxerga como uma espécie de "xerife do mundo", responsável por colocar ordem no planeta, ordem essa baseada sempre na lei do mais rico que domina o mais pobre, onde ele é o "manda-chuva" milionário, e por ser milionário entende que tem poder de fogo sobre todo o resto do planeta, que ele entender ser apenas um playground onde ele possa brincar a hora que quiser e do jeito que quiser. Veja, não digo que ele entende que os EUA dominam o mundo. Disse que ele quer ser o dominador do mundo, impondo as suas vontades sobre os demais. 

Isso ficou claro no plano ao mesmo tempo patético e cruel que ele apresentou para Gaza, com um vídeo gerado por IA onde ele mostra querer transformar um território do planeta num resort particular, com uma estátua de ouro dele próprio, onde ele mesmo aparece sem camisa desfrutando do sol e do mar com seus convidados lambe-botas, como o primeiro ministro israelense Benjamin Netaniahu. 

Também ficou claro que ele se vê como o dominador do planeta ao exigir que Zelensky agradecesse a ele pelas ajudas que os EUA já ofereceram ao povo ucraniano para se defender da invasão russa. Esperem: a ajuda com com dinheiro dele ou dinheiro do governo americano? Por que o agradecimento teria de ser pessoalmente a Trump? Não estamos falando de um amigo que ajudou o ouro num momento de dificuldade. Estamos falando de transações entre governos. Um governo ajudando outro governo. Mas Trump demonstra ter muita dificuldade em separar o governo dele próprio. Ele se vê como o governo. Não existe a instituição governo, no entendimento dele. Existe apenas ele próprio, o líder do mundo. 

Inclusive, nesse sentido de ele se ver como líder do mundo, é bem curioso ver os cristãos o venerando como se fosse um estadista. A Bíblia, livro sagrado cristão, menciona a chegada ao mundo de um homem que se vende como líder mundial, capaz de resolver os problemas do planeta. Mas na Bíblia esse homem é chamado de Anticristo. Vai entender...

Trump parece não sossegar enquanto não conseguir trazer para si - de novo, para si e não para os EUA - tudo o que ele achar que deve tomar, seja o Golfo do México, seja a Groenlândia, o Canadá, os minerais da Ucrânia e agora Gaza. Nesse sentido, ele mais parece o antigo doutor Pompeu Pompílio Pomposo, mais conhecido como o Doutor Abobrinha do Castelo Rá Tim Bum, que queria por toda maneira tomar o Castelo para si, sempre com planos infalíveis bizarros e crueis. Mas no programa da TV Cultura, o doutor era um homem atrapalhado, que sempre se dava mal. Na Casa Branca o Doutor Abobrinha de Washington terá algum sucesso?

Enfim, ainda é muito cedo para entender onde o mundo irá chegar nos próximos quatro anos. E como disse, não nos interessa as medidas internas que ele toma ou deixa de tomar. Mas quando ele começa a apitar no quintal dos outros, precisamos ficar atentos, pois uma hora ele pode querer apitar no nosso. 

O que, aliás, ele já vem tentando fazer, mas isso é assunto para outro post. Até a próxima! 

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