Vamos Correr Juntos?



Na empresa em que eu trabalho o dia das crianças é sempre comemorado na sexta feira que antecede o feriado de doze de outubro. O dia sempre é bem agitado, pois a empresa libera os funcionários para trazerem seus filhos de até doze anos. Isso significa corredores cheios de crianças correndo por todos os lados, falando alto, comendo doces e coisas do tipo. No fim acaba sendo divertido até para os adultos. Mesmo os que não tem filhos - como eu - acabam gostando do dia e da alegria que a criançada trás para o ambiente de trabalho. 

Mas uma coisa me chamou a atenção no meio de toda essa agitação: estava descendo para tomar café quando vi uma menina correndo pelo corredor e, num certo ponto, encontrou um menino encostado na parede, comendo pipoca. A que corria cutucou o outro e disse: "vamos correr juntos?". Nem precisou de resposta. O que estava encostado largou o saco de pipoca no chão e os dois saíram destrambelhados pelo corredor disputando quem corria mais. 

Quando vi isso me perguntei: em qual momento da vida perdemos essa capacidade de desfrutar da companhia do outro? Em qual etapa passamos a nos preocupar com a sexualidade, com a cor da pele, com a classe social, com a religião do outro? As duas crianças não perguntaram nada uma para a outra. Sequer o nome. Apenas queriam correr juntos. Não interessa se um é filho de pais gays ou de mãe solteira, se foi criado com avós, se frequenta escola pública ou se mora em favela, se tem alguma doença, se é bonito ou não, se usa boas roupas, se frequenta os melhores shoppings. Criança não se importa com essas coisas. Essas preocupações são dos adultos. Para a criança o outro é apenas um igual com quem dividir uma brincadeira. Só isso. 

Sim, as crianças tem muito a nos ensinar. As vezes penso que elas mais ensinam do que aprendem. Bem que o dia das crianças poderia servir aos adultos para reflexões como essas: quais qualidades das crianças nós devemos tentar resgatar? 

A capacidade de correr juntos poderia ser uma das primeiras. 

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