Silêncio também é música



Imagine se numa orquestra todos tocassem o tempo inteiro juntos. Seria algo horrível de se ouvir! Já pensou trompetes com violoncelos, violinos com percussão, tubas e flautas, todos fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo? Arre, não quero nem imaginar. 

Sabe o que faz da música algo agradável e magnífico? Sabe o que faz Mozart ser tão apreciado? Chopin ser tão aclamado? Villa Lobos estudado e seguido por milhares de jovens sonhadores? Não, não são os acordes bem escritos e pensados harmonicamente; não são as escalas desenhadas perfeitamente para aquele ou esse instrumento; não são os intervalos de terça, de quinta, que fazem o jogo de notas serem mais do que bolinhas pretas e brancas numa partitura; não são as expressões italianas que parecem fazer mágica ao marcarem mudanças de andamento tão sensíveis à audição; não é a mudança de um “afetuoso” para um “agitato”, ou de um “cantabile” para um “scherzando”; não, não é a mudança de compasso nem a armadura da clave, nem os sustenidos e bemois tão belos quando executados à risca. Não é nada disso que trás beleza à música. Sim, essas coisas todas contribuem, claro. Mas sabe o que faz mesmo a diferença numa bela música? Saber respeitar o silêncio. 

Sim, o silêncio é tão importante que o primeiro teórico musical resolveu musicá-lo, também. Existem símbolos com valores diferentes e toda uma estrutura para abarcar o silêncio na música. Bom músico não é aquele que executa bem sua partitura. Bom músico é aquele que sabe respeitar o silêncio. 

Ninguém toca uma peça inteira do começo ao fim. Há momentos em que você brilha com seu instrumento e arranca aplausos da plateia, mas há momentos em que você precisa ficar em silêncio, quietinho, esperando no seu canto, dando a vez para que o outro brilhe, pra só aí voltar a executar. Sim, isso é o silêncio em música. Saber esperar e respeitar a vez do outro. Por quanto tempo? Sei lá, alguns bons tempos. 

Saber respeitar o silêncio, o momento de calar, é tão importante que a mais bela nota, o mais belo acorde, o mais perfeito sustenido executado num momento de silêncio torna-se uma aberração aos ouvidos. Silêncio é silêncio. Shiiii! Quietinho! Não é sua vez, agora. Espere! 

Quer saber quanto tempo deve ficar em silêncio? Siga sua partitura, está tudo escrito lá.

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