#Livros E a Vida Continua...
Terminei de ler essa semana o livro E a Vida Continua... da escritora paulistana Nina de Lima. E confesso que, mesmo tendo lido muita coisa - já li bastante coisa mesmo! - posso dizer sem dúvidas que essa foi uma das minhas melhores leituras até hoje.
Roberta é uma jovem que, apesar de manter intactos sonhos e planos para sua vida, se vê sufocada pelos rígidos costumes da São Paulo dos anos 30 que, logo após a Revolução Paulista de 1932 mergulha numa crise que obriga Roberta a procurar emprego no Rio. De lá se corresponde com a mãe por cartas, a quem conta sobre sua vida e suas expectativas. Mas ao mesmo tempo em que escreve cartas para a mãe, faz cartas paralelas, nunca enviadas, com desabafos sobre sua vida e sobre a criação que recebeu. Nesses desabafos comenta sobre seu grande amor Carlos, seu patrão que se apresenta como o homem dos sonhos, mas que depois Roberta descobre ser casado. Mesmo com a descoberta, Roberta entende que ele é o homem ideal para si, mas por conta dos costumes resolve reprimir seu sonho e se casa sem amor com outra pessoa, com quem tem quatro filhas e uma vida bastante difícil de mudanças bruscas e falta de dinheiro. Uma das filhas, Maria Cecília, é deixada com os tios em São Paulo, devido a falta de condições da mãe e do pai em criar tantas crianças. Ao crescerem, Maria Cecília e sua irmã mais velha Maria Cristina mantém o habito iniciado pela mãe de se corresponder por cartas e, de forma honesta e aberta, abrem o coração para falar sobre o passado e colocar a limpo histórias mal explicadas na família.
O livro é incrível. Com uma narrativa simples, sem grandes pretensões, a autora cria uma história envolvente sobre dramas familiares. A família de Roberta está longe do conceito de família perfeita que se vendia nos tempos antigos. Brigas familiares que começam nos pais e passam aos filhos como que por herança genética, casamentos sem amor, mães que se veem limitadas diante da total falta de perspectiva e que são obrigadas a abandonar seus próprios sonhos em nome da maternidade, tudo isso embalado por um conceito de cristandade que formou nossa sociedade, para o bem e ao mesmo tempo para o mal. A forma como as histórias são descritas, a delicadeza com que temas tão complexos são tratados, a beleza com que os dramas internos das personagens são expostos mostram uma escritora de alma aberta, que não tem o porque conservar consigo sentimentos que não mais incomodam, que já se sente a vontade e livre o suficiente para colocar no papel sentimentos que muitos de nós preferimos guardar no mais profundo da alma. A história de Roberta e de suas filhas é a história de muitos de nós, que conservamos dentro de nós sentimentos que, mesmo sem perceber, incomodam e nos fazem mal. Externar, falar sobre esses sentimentos e "por a roupa suja pra lavar" pode ter um efeito libertador e, muitas vezes, reaproximador.
Tudo isso sem falar na escrita em estilo de cartas trocadas entre as personagens, que pra mim é a melhor forma de se escrever esse tipo de história.
E a vida continua... é um livro sobre famílias que, independente de como são compostas e de em qual época vivam, tem sempre os mesmos problemas.
Sim, é um dos melhores livros que li. Indico quantas vezes for possível!
Fico satisfeita por você ter apreciado, eu também já li e gostei, mas eu sou descendente da família. E você é alguém de fora, então muito me orgulha, pois a autora é minha mãe. Obrigada!
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