#Livros: Bubble Gum - Lolita Pille


Terminei de ler hoje Bubble Gum, da autora francesa Lolita Pille, a mesma de Hell Paris 75016, um dos maiores bestsellers da França. Posso dizer sem sombra de dúvida que esse livro me marcou. E muito!

Manon é uma garota comum, que vive em Terminus, uma pequena cidade do interior da França. E se irrita por isso: ser uma garota comum, vivendo num lugar comum com pessoas comuns que fazem coisas comuns. Manon sonha em ser um dia uma atriz de cinema, ter fama e ser reconhecida nas ruas. Mas em Terminus ela sabe que isso nunca acontecerá. Muito pelo contrário: seu futuro lhe reserva exatamente o mesmo que já acontece a todos os outros moradores da cidade, uma vida pacata, sem graça, sem nenhum acontecimento extraordinário, onde todos se conhecem, e apenas isso. Aliás, o próprio nome da cidade é autoexplicativo. Manon quer mais, muito mais, por isso decide sair de Terminus e ir para Paris, onde passa a trabalhar num restaurante como garçonete e conhece Sissi, a falsa amiga que lhe convida para participar de um avant première de um filme qualquer, convite esse que Sissi obteve graças aos "contatos" que consegue no mundo da fama em troca de favores, quase sempre sexuais. Nesse evento Manon conhece Derek Delano, o "todo poderoso" do mundo das celebridades. Mas se Manon é uma garota que sonha com o mundo da fama, Derek é um homem desiludido pelo mundo das estrelas que, apesar de muito rico e desejado, sente um vazio imenso desde que sua amada Julie morreu, vazio esse que não pode ser preenchido com nenhuma das melhores bebidas que seu dinheiro pode pagar. Para tentar encontrar um sentido em sua vida,  Derek decide entrar em uma missão: destruir a vida de alguém. Não no sentido de assassinar, mas de destruir um sonho, uma realização. Levar uma pessoa comum ao fundo do poço, à situação mais degradante que um ser humano possa chegar. Encontrar alguém passível de ser enganado a ponto de acreditar ser alguém importante, para depois ser desmascarado e descobrir que não passa de um ninguém, um verme desprezado por todos. E para isso Derek está disposto a gastar o dinheiro que for necessário e mentir o quanto for possível. É nesse clima que os destinos de Derek e Manon se encontram.

O livro é mais que um romance com a intenção de impactar. É um convite a uma reflexão séria em tempos de reallities show e obsessão pela fama: qual preço você está disposto a pagar para alcançar o sucesso? Que valores você está disposto a negociar por isso? O que você entregaria se, em troca, lhe fosse prometido fama, sucesso e poder? Manon é uma garota sem raízes morais. Uma jovem que ainda não formou as bases do seu caráter.  Vazia de conteúdo, que quer apenas ser uma atriz para que possa interpretar várias pessoas diferentes e se esquecer da vida miserável que leva em Terminus. Manon é o modelo perfeito das moças, seja na França ou em qualquer parte do mundo, que não percebem que tudo na vida tem um preço. E as vezes o preço é alto, mas preferimos fechar os olhos e "deixar a vida nos levar", para só depois verificar a fatura que a vida nos envia, nem sempre com prazo de pagamento prorrogado. Numa clara alusão a Fausto de Göethe, Derek diz várias vezes que Manon lhe "vendeu a alma", e tudo isso para que? Para viver uma vida vazia, rodeada de papparazzi, esbarrando em George Clooney no restaurante à noite, estampando capas de revistas e levando uma vida medíocre, uma vida "redonda, rosa e nojenta, que pode estourar a qualquer momento e virar uma simples massa sem gosto e sem utilidade, tal qual uma bola de chiclete" (trecho do livro). A vida de Manon, assim como a de várias outras pessoas, é como um filme, com roteiro estabelecido, com começo, meio e fim. Ou melhor: como um "não-filme". Tanto que vez por outra no livro Derek esbarra num contrarregra, e em vários trechos ele cita a trilha sonora do acontecimento que narra - trilha de muito bom gosto musical, diga-se de passagem. 

Confesso que no início da leitura não coloquei muita fé no livro. A capa me fez imaginar que Bubble Gum era um desses livros de adolescentes que insistem em se dizer vitimizadas pelo amor.   Pensei que fosse alguma versão francesa de Marta Medeiros, ou algo do tipo. Além disso, a tradução deixa um pouco a desejar principalmente por problemas graves com pontuação, principalmente a falta de ponto final em várias frases - substituído por vírgulas, que acabam criando frases gigantes e desconexas. Mas conforme a trama ganha consistência e a história vai ficando cada vez mais intensa, é impossível parar de ler. Aliás, intensa é uma palavra até um pouco desgastada, mas que descreve bem a história do livro. Poucas vezes li livros que me tiravam o fôlego enquanto lia. Bubble Gum fez isso. 

Indico!

Comentários