O Xangô de Baker Street



Acabei de ler hoje O Xangô de Baker Street, do Jô Soares. Comecei a ler por acaso, quando entrei numa loja para perguntar pelo livro As Esganadas, e como a loja ainda não tinha recebido o vendedor me ofereceu os livros anteriores. Eu, que ainda não tinha lido nada do Jô mas gosto muito do trabalho dele, achei que seria legal ler os outros livros dele antes de ler o lançamento. E comecei pelo Xangô. Na minha opinião um dos melhores que eu já li (já disse isso de vários livros, acho que minhas leituras andam muito boas... rs)

O Xangô de Baker Street se passa no Brasil imperial de D. Pedro II. O sumiço de um violino Stradivarius raríssimo, que D. Pedro havia dado de presente - secretamente - à baronesa Maria Luiza Catarina de Albuquerque desencadeia uma série de acontecimentos estranhos e crimes hediondos: mulheres vem sendo assassinadas misteriosamente, e em cada um delas o assassino amarra uma corda de violino, o que leva o delegado Mello Pimenta a crer que o ladrão do violino e o assassino são a mesma pessoa. O caso é tão complexo que sua majestade resolve convidar o detetive mais famoso do mundo, Sherlock Holmes, para ajudar nas investigações, por indicação da grande atriz francesa Sarah Bernhardt, que estava em turnê no Brasil.

O que seria apenas um caso que renderia mais fama e glamour ao renomado detetive acaba se revelando uma série de acontecimentos atrapalhados, causados por gente que nunca esteve nos trópicos e para quem a vida por aqui é novidade. No Brasil Sherlock se apaixona, prova da nossa cachaça, cria termos que futuramente seriam usados no mundo inteiro, como a expressão serial killer para designar loucos que matam pessoas em lugares diferentes, mas do mesmo modo e aparentemente com a mesma motivação. Usa de suas deduções - nem sempre corretas - para avaliar os casos mais fúteis, enquanto o crime principal fica cada vez mais complicado.

O resultado é uma leitura intrigante. Ao mesmo tempo em que o Jô nos faz sentir repulsa pelas cenas detalhadas dos assassinatos horrendos ele também nos faz rir descontroladamente com as confusões causadas pelos brasileiros que tentam fazer bonito diante dos estrangeiros, ou com as histórias que ele inventa para explicar certos acontecimentos da história (como o motivo que levou o Imperador a dar o título de visconde de Ibituaçu ao jovem Rodrigo Modesto). Isso sem falar nas personagens da história brasileira que estão presentes no livro, como Olavo Bilac, Paula Nei, Chiquinha Gonzaga e sua excelência, o atrapalhado Imperador do Brasil D. Pedro II, além do mundialmente conhecido personagem de Conan Doyle e seu fiel assistente Dr. Watson. Imagine essa mistura de personagens totalmente desconexos entre si feita por uma mente brilhante como a de Jô Soares. O resultado não poderia nada menos que fantástico.

Uma coisa que achei incrível é a quantidade de pessoas que admiram Jô Soares que conheci pelas ruas, andando para cima e para baixo com O Xangô nas mãos. O tempo todo alguém parava, comentava, elogiava e concluía o óbvio: o Jô é ótimo, mas muito metido! rs Bom, ele pode ser metido, pois talento para exibir ele tem.

Agora vou começar a leitura do segundo livro dele que comprei: Quem matou Getúlio Vargas. Desejem-me boa sorte!

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