Fermín Romero de Torres

Diálogo entre Daniel e Fermin, no livro A Sombra do Vento:


-Então, Fermin, conte-me de Bernarda. Houve beijo ou não?

-Não me ofenda, Daniel. Lembro-lhe que está falando com um profissional da sedução, e isso de beijo é para amadores e diletantes de chinelos. A mulher de verdade se ganha pouco a pouco. Tudo é questão de psicologia, como uma boa tourada.

-Ou seja, ela o rejeitou.

-Ninguém rejeita Fermin Romero de Torres. O que acontece é que o homem, voltando a Freud e usando uma metáfora, é como uma lâmpada: esquenta num instante e em seguida esfria num instante. A fêmea, porém, e isso é ciencia pura, esquenta como um ferro de passar, entende? pouco a pouco, a fogo lento. Mas depois que esquenta não há quem a detenha.

-É isso que você está fazendo com Bernarda? Pondo o ferro para esquentar?

-Daniel, como eu, no fundo, sou um cavalheiro à moda antiga, não me aproveitei dela e me conformei com um casto beijo. Porque não estou com pressa, sabe? A espera aumenta o desejo. tem uns bobalhões por aí que acham que, se põem a mão na bunda de uma mulher e ela não reclama, já está no papo. Idiotas. O coração de uma mulher é um labirinto de sutilezas que desafia a mente grosseira do homem trapaceiro. Para realmente possuir uma mulher, é preciso primeiro pensar como ela, ganhra sua alma. O resto, o corpo lindo e escultural com aquele par de peitos que nos faz perder a cabeça, vem como consequência.

-Fermín, você é um poeta!

-Não, não sou porque a poesia mente, embora de forma bonita, e o que eu digo é verdade. Ja dizia o mestre: mostre-me um mulherengo e eu lhe mostrarei um homossexual disfarçado. O meu negócio é a permanência. Você será minha testemunha de que farei de Bernarda uma mulher, se não de respeito porque isso ela já é, ao menos feliz.

-Cuide bem dela, Fermín. Bernarda tem um coração de ouro e já passou por muitas decepções.

-Acha que não percebo? Vamos, isso está escrito na sua testa. Quando se tem intenções sincera com uma mulher, lê-se em sua face o que ela espera. Estou lhe afirmando:vou cobrir essa mulher de felicidade, nem que seja a última coisa que que faça neste mundo.

-Palavra?

-Palavra de Fermín Romero de Torres.


***


Esse diálogo, entre Daniel e Fermin, representa talvez tudo o que penso de uma relação entre homem e mulher: a mulher não pode ser vista como mercadoria, nem o sexo como final gostoso de uma balada. Uma mulher é algo para ser respeitado, amado, apreciado com carinho, observando, muito mais que seus peitos ou sua bunda, seu coração e sentimentos. Ver o que ela quer de um homem. Porque uma mulher tem sentimentos que, se machucados, podem nunca mais cicatrizar.
Não aceito nunca uma relação entre um homem e uma mulher que começa num beijo numa porta de bar, ou qualquer outro lugar, e termine numa cama de motel, onde apenas se "fode" e depois diz "tchau".
Não aceito que o corpo de uma mulher seja usado como objeto de satisfação de um desejo ou tara momentânea. Que uma bunda ou um par de peitos sejam apenas motivo de brincadeirinhas.
Não aceito que uma mulher entregue seu corpo apenas para se satisfazer com um fanfarrão qualquer. Nisso, ainda sou obrigado a concordar com as putas profissionais, pois pelo menos cobram caro para que usem seu corpo, apesar que não sei se o corpo tem preço.
Não aceito esse tipo de relacionamento que prioriza apenas o prazer de uma relação sexual, ou de uma "transa", e se esquece do encontro de sentimentos. "Dar" é atitude de pessoas de baixo calão, de pessoas que não se valorizam, que não pôem preço ao seu próprio corpo. Pessoas que tem atitudes puras não "transam", mas "fazem amor" com aquele que considera seu por toda a vida.
E que venham as críticas!


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