#Mulheres2016: Onde o Machismo Está?




Larissa Oliveira


Dia da mulher é aquele dia em todo mundo se “sensibiliza” com a “causa feminina”. Homens viram pessoas adoráveis e educados, empresas presenteiam, a TV faz homenagens e essas coisas todas. Dia seguinte volta tudo ao “normal”: voltamos a ser abusadas no metrô, voltamos a ser alvo de piadinhas machistas, voltamos a ter medo de voltar da faculdade a noite sozinhas, voltamos a ser as “vadias” que “deram motivo” ao estupro por usar roupas curtas, voltamos a ser mulheres que “não se dão ao respeito” (o texto da Camilla Catai sobre isso foi incrível!), voltamos a ser mulheres brasileiras, com toda a implicação que isso carrega. 

Dá pra mudar isso? Sim, mas a forma como a coisa está sendo feita está errada. 

Não vamos mudar essa realidade com campanhas bonitinhas na TV que mostram que a mulher, esse ser bizarro criado por um deus judeu para ser “companheira” do homem, é também tão competente quanto os homens, alicerces da sociedade. Não é forçando a mulher a participar da política, com cotas e campanhas esdrúxulas, que isso vai mudar. Tampouco vamos mudar isso com leis que punem homens violentos, mas que só funcionam quando a tragédia já aconteceu. Pra que Lei Maria da Penha? Pra que feminicídio? Pra limpar o leite derramado? Por que só resolver o que já aconteceu? 

O que podemos fazer para evitar que tragédias aconteçam? 

Precisamos identificar e desconstruir a cultura machista que envolve nossa sociedade. Sim, vivemos numa cultura machista, ensinada em casa pelos pais. Aprendemos desde cedo que mulheres são “frágeis” e homens são “fortes”. Aprendemos – e ensinamos – que mulheres nasceram pra ficar em casa cuidando dos filhos, por isso espanta tanto a mulher estar no mercado de trabalho. Aprendemos que é função da esposa “cuidar” do marido, lavando e passando sua roupa, preparando seu jantar e a marmitinha para o trabalho no dia seguinte. Ensinamos aos nossos filhos que brinquedos de meninas são coisas relacionadas ao lar – bonecas, minicozinhas, miniguarda-roupas, e brinquedos de meninos são coisas que estimulam a inteligência: videogames, carrinhos (estimulam o senso de direção), ferramentas, quebra-cabeças, futebol. Ensinamos nossas meninas a “se preservarem”, pois mulher tem que se dar ao respeito (mais uma vez citando o texto da Camila), enquanto os meninos aprendem a “aproveitar a vida” com sexo, baladas e tudo o que isso envolve. Meninas devem se vestir de rosa, vermelho, amarelo, com roupas delicadas e caras escolhidas a dedo depois de uma longa e cansativa seleção, sempre decoradas com alguma fofurinha, para ressaltar a “feminilidade”, enquanto homens vestem a primeira camiseta e calça jeans que aparecem no guarda roupa, pois isso é “ser homem”. Meninas tem de se depilar, cuidar do cabelo, se maquiar bem, cuidar das unhas, usar bons perfumes, enquanto ao homem basta usar um desodorante e escovar os dentes (e muitas vezes nem isso fazem!). Meninas gastam horrores em salão para cuidar bem dos cabelos, com tintura, escova, hidratação e etc, pois é feio uma mulher mal cuidada. Homens pagam R$ 15 para tirar o excesso e ainda ganham uma cerveja, enquanto conversam sobre futebol e folheiam uma Playboy velha. Mulheres devem se portar bem, se sentar de forma elegante, usar corretamente os talheres na mesa, enquanto homens são os ogros que dão risada disso tudo. Homens são “práticos”, mulheres são “fúteis”. Homens gostam de futebol, carros e mulher pelada. Mulheres gostam de novela. Mulher é complicada, homem é prático. Mulher briga muito, homem é “de boas”. Mulher gasta muito dinheiro com sapato no shopping, homem compra um tênis a cada 5 anos. Homem que pega todas na balada é “pegador”, “pirocudo”. Mulher que pega todos é “vadia”. Homem que transa no primeiro encontro é um “fodão”. Mulher que dá no primeiro encontro é “puta”. Homem sem camisa é “másculo”. Mulher sem camisa é “atentado ao pudor”. Homem que sai com prostituta é “seguro de si”, prostituta é “mulher sem valor”. “Chave que abre qualquer fechadura é chave mestra, fechadura que abre com qualquer chave é descartada”. 

E aí, vivemos numa sociedade machista ou não? 

Como mudamos isso? Em primeiro lugar precisamos falar. Denunciar essas pequenas coisas, muitas vezes inocentes e feitas automaticamente, mas que escondem uma cultura que prega a superioridade masculina frente à fragilidade feminina. Só vamos entender a igualdade entre os sexos quando começarmos a praticar isso de verdade, e quando ensinarmos nossos filhos e netos. Leva tempo e dá trabalho, mas dá pra mudar. 

Mulheres, denunciem. Questionem mesmo. Quebrem regras. Se dizem que futebol não é coisa de mulher, torçam. Vá ao estádio. Xingue a mãe do juiz. Façam o que vocês querem. 

Homens, questionem também. Entendam que quando colocam um padrão de comportamento masculino, estão excluindo os homens que se sentem diferentes. Numa sociedade em que homem é “forte”, “másculo”, o que não se encaixa nisso é taxado de “fraco”, “perdedor”. Saiu e não pegou nenhuma mulher? “Deve ser viado”. Você também sai perdendo com essa cultura machista. 

O machismo está por toda parte. É nossa função desconstruí-lo.


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Larissa Oliveira tem 23 anos, é de São Paulo e estudante de Direito. Filiada ao PSDB e membro da Juventude Tucana de São Paulo. 

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